Carta ao Leitor: O poder da reportagem 4185r
Cobertura de VEJA sobre trama golpista definiu rumos dos interrogatórios no Supremo 6i486k

A imprensa só sobrevive com o oxigênio das boas reportagens, e os grandes profissionais especializados na caça às notícias exclusivas fazem parte de uma estirpe de homens realistas que não se deixam enganar pelo jogo e que enxergam na normalidade sua nêmesis — algumas definições da classe emprestadas das palavras de um dos maiorais do ramo, o americano Gay Talese, célebre por textos clássicos sobre assuntos variados (do cantor Frank Sinatra ao universo do sexo nos Estados Unidos em meio à liberação comportamental dos anos 1960). Esse tipo de talento costuma se sobressair nos momentos em que o jornalismo escreve o primeiro rascunho da história, dentro da cobertura diária dos fatos mais relevantes que um dia serão analisados e contextualizados para a compreensão de uma determinada época.
Os olhares da atualidade no Brasil estão hoje debruçados sobre um desses momentos que serão lembrados para sempre. De forma inédita, o país vem acompanhando o caso de uma tentativa de golpe em um julgamento que trouxe para o banco dos réus um ex-presidente, militares de alta patente e ex-ministros. Nos últimos dias, foram interrogados no Supremo a respeito das graves acusações que recaem sobre eles, entre as quais a da tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito. Durante as sessões, várias das perguntas de Alexandre de Moraes, ministro do STF, de Paulo Gonet, procurador-geral da República, e dos advogados tiveram como base a cobertura de VEJA sobre o caso. Exemplo disso foi a capa que detalhou como o grupo próximo a Jair Bolsonaro tinha um roteiro para anular as eleições, afastar ministros do STF e colocar o país sob intervenção militar até que um novo pleito fosse realizado.

Autor desse furo, o editor-sênior Robson Bonin também foi o responsável por outras bombásticas apurações exclusivas relacionadas ao mesmo processo. Em março do ano ado, assinou em parceria com as jornalistas Laryssa Borges e Marcela Mattos a reportagem com os áudios em que Mauro Cid fazia jogo duplo. Ao mesmo tempo que fornecia informações para ajudar a desnudar a tentativa de golpe, o tenente-coronel dizia a pessoas próximas que suas declarações eram distorcidas, certas informações tiradas de contexto e outras convenientemente omitidas pela PF. Em reportagem da edição, Bonin volta ao personagem mostrando como ele mentiu a Alexandre de Moraes no interrogatório realizado na segunda-feira 9. Titular da coluna Radar, o editor-sênior de VEJA é o tipo de profissional capaz de fazer perguntas a que ninguém quer responder e observar o que ninguém quer que seja visto — mais duas definições sobre o ofício de repórter cunhadas por Gay Talese.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948